“Brasil segue pela naturalização das mortes”. Em tom de forte preocupação, o doutor em microbiologista e divulgador científico Atila Iamarino lamentou a situação do controle da pandemia do novo coronavírus no País. Ele participou, nesta quarta (7), de painel apresentado na Semana Mundial da Saúde. O evento on-line, promovido pela MV, abordou variantes do Coronavírus, sequelas da doença e avanço das vacinas no País.
Além de Iamarino, também participaram Denise Garrett, epidemiologista e vice-presidente do Sabin Vaccine Institute (EUA), e Alexandre Kawassaki, médico pneumologista do Hospital 9 de Julho.
A mediação foi realizada por Mariana Varella, editora-chefe do portal Drauzio Varella, que conduziu a conversa entre os especialistas abordando temas de preocupação nacional. Atila Iamarino ressaltou a importância do distanciamento social para diminuir a circulação do vírus e o consequente surgimento de novas variantes potencialmente mais perigosas.
“Quanto mais o vírus circula, maior o risco de gerar a variabilidade. (…) O surgimento de um vírus mais transmissível, mais aderente ao sistema humano, acaba com a evolução conquistada com o isolamento e avanço da vacinação. Essa pequena margem de mais transmissibilidade é o que indica que estamos com a doença fora de controle”.
“Nos Estados Unidos, o vírus tem sido contido com a vacinação e mudança de postura (medidas sanitárias). Assim, enquanto Ásia e Europa se conformam com um novo normal que exigirá lockdowns no inverno, o Brasil segue pela naturalização das mortes. (…) Tenho medo de seguirmos sedimentando as coisas e por um caminho de massacre, no qual admite-se que os mais vulneráveis são descartáveis (eugenia)”, completou o microbiologista.
Já Denise Garrett reforçou que a situação atual é marcada pela falta de vacinas e atraso nas entregas de doses. Para ela, a estratégia política que vem sendo adotada fortalece empresários em detrimento de grupos prioritários do SUS.
“O Brasil começou a vacinar após 50 países. No ritmo atual, vamos levar, no mínimo, mais um ano e meio para cobrir 75% da população. Hoje, não existe uma preparação nacional, que se agrava pelo fato de não termos vacina. O cronograma de vacinação do Ministério da Saúde já mudou cinco vezes. Além disso, existe um projeto de lei que vai oficializar os fura-filas. Então, eu só posso dizer que a situação não é boa”.
O Brasil segue pela naturalização das mortes. (…) Tenho medo de seguirmos sedimentando as coisas e por um caminho de massacre, no qual admite-se que os mais vulneráveis são descartáveis (eugenia)”, completou o microbiologista
Alexandre Kawassaki mostrou preocupação com o acometimento de jovens: “tenho uma percepção subjetiva de que hoje há muito paciente jovem vítima da doença. Não se sabe comprovadamente se isso é uma característica da vacina, da nova cepa, ou do jovem como força motriz das aglomerações, mas notamos uma mudança no perfil dos pacientes acometidos. Isso é muito difícil para quem trabalha no combate”.
Kawassaki também explicou que os sintomas mais comuns em casos mais graves são febre, tosse seca forte e falta de ar, que é o fator mais preocupante. Outra característica notada é que a ausência da perda do olfato indica que pode ser um caso mais grave. “Quanto mais grave é o caso, maior a chance do acometimento sistêmico para os pacientes. Em estudos de necropsia foi encontrado o vírus em todos os órgãos, inclusive na pele”, comentou.
O pneumologista ainda fez um alerta para que as pessoas permaneçam em isolamento: “o negacionismo individual é muito comum. Devemos pensar que a Covid mais comum é a ‘gripezinha’, com sintomas mais brandos, mas que se transmite e pode acabar evoluindo para casos mais graves. Por isso, se o indivíduo apresentar sintomas leves, recomendo que faça o teste e pense na possibilidade de contaminar outras pessoas”.
A respeito do futuro e da possibilidade de um “novo normal”, os três especialistas se mostraram preocupados. Iamarino acredita que o futuro será muito diferente da convivência que esperamos ter com o vírus. “Acho inadmissível o que estamos passando agora! Vejo necessidade de um lockdown mais rígido, mas duvido que isso se manifeste como realidade. Quando tivermos uma campanha nacional de combate a Covid, com todos imunizados, já teremos um ganho, mas não vislumbro um cenário em que estaremos aglomerados em um carnaval com segurança”, reforçou.
Kawassaki concorda com essa realidade. “Entendo que este é um vírus que veio pra ficar. A gente tem a torcida para que o mundo volte ao normal, mas imagino que vamos ter que pensar em um cronograma de vacinação e isso me preocupa, sem saber o que vai acontecer. A pandemia, uma hora, acaba, o vírus, não. Espero um arrefecimento desse caos, mas o risco vai estar aí. Vamos ter que mudar a forma como a gente vive, mas espero aprendizados”.
Denise também acredita que nos adaptaremos para conviver com risco do vírus. “Temos que ter a humildade de assumir que fazer uma previsão sobre a pandemia é muito difícil. Acho que o mundo para o qual estamos caminhando não é um mundo sem Covid. Muito embora a fase pandêmica acabe, esse vírus vai fazer parte da nossa vida pra sempre. Para chegar a essa normalidade, é preciso haver o controle de aceitação de risco. Quando grande parte da população estiver vacinada, vamos avaliar os riscos em se expor. Também podemos esperar um novo normal com mudanças de comportamento, com mais prevenção e cuidado. Hoje, com a falta de atividade do governo, a conscientização está muito nas mãos da população”, concluiu.
A conversa completa pode ser assistida pelo link.
Serviço – Semana Mundial da Saúde 2021
Data: 6, 7 e 8 de abril
Horário: 20h
Informações: https://conteudo.mv.com.br/
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