Sociedade

Branca Dias: primeira professora de meninas do Brasil

Não deixa de ser sintomático que, Branca Dias, a primeira professora de meninas reúna em si mesma todos os clichês possíveis da desvalorização dos professores no Brasil: mal se sabe que foi uma professora que desafiou a Inquisição

Por Alexey Dodsworth

A história em quadrinhos “A Máscara da Morte Branca” recebeu menção honrosa no III Prêmio da Aberst (Associação Brasileira de Escritores de Romance Policial, Suspense e Terror). Como hoje, 15 de outubro, é Dia dos Professores, chamo mais uma vez a atenção para esta que é considerada a primeira professora de meninas do Brasil. É claro, houve professoras antes de os colonizadores chegarem: as nativas ensinavam coisas às crianças da tribo.

Então por que se diz que Branca Dias foi “a primeira professora do Brasil”? Porque a terra que passou a ser chamada de “Brasil” não tinha este nome antes da chegada dos colonizadores. E o primeiro lugar que ficou conhecido como “escola para moças” [um internato] foi a casa de Branca, em Olinda.

Ninguém sabe como Branca chegou no Brasil. Especula-se que veio de carona num navio que servia ao tráfico de pessoas escravizadas. Veio fugida da Inquisição, que a manteve presa por pouco mais de um ano e só a liberou porque tinha dois filhos deficientes físicos para cuidar. Sua família, de origem espanhola, já havia fugido da Espanha para os judeus. Mas “menos terrível” ainda era bem ruim.

Chamo a atenção também para um fato recorrente nas denúncias contra Branca e suas filhas: elas sabiam ler. Bom sinal isso não era. Em uma das denúncias, uma de suas filhas é apontada como alguém que não trabalha aos sábados e fica deitada em uma rede, lendo.

Mulher que lia, na época, virava alvo de suspeição: judia. Não apenas sabia ler, Branca ensinou seu filho Afonso, que nasceu sem os braços, a escrever com os pés. Notem que se trata de uma cultura que dá imenso valor à palavra escrita, aos livros, à leitura.

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Assombração pernambucana de Branca Dias em quadrinhos

Não existe praça ou estátua em homenagem à primeira professora de meninas do Brasil. Temos estátuas que homenageiam escravagistas e assassinos de indígenas. No Brasil, a primeira professora de meninas virou uma história de fantasma. Ela é conhecida como sendo uma assombração pernambucana tradicional que afoga quem chegar perto do Açude do Prata.

Não deixa de ser sintomático que a primeira professora de meninas reúna em si mesma todos os clichês possíveis da desvalorização dos professores no Brasil: mal se sabe que foi uma professora que desafiou a Inquisição. A primeira professora do Brasil virou um fantasma.

E se não há praças nem estátuas, fazemos quadrinhos. Fiz de propósito uma releitura da história de fantasma dela para atrair o público jovem. No fim da revista, há um posfácio textual que fala sobre a vida dela. Fico feliz ao contatar que atingi meu objetivo.

Desde que foi lançada no fim do ano passado, já fui procurado por três mulheres estudantes que decidiram fazer seu TCC e a dissertação de mestrado sobre a vida dela. Nos três casos, o comentário foi o mesmo: “eu nem sabia que ela existia, mas agora só consigo pensar nela”.

Que nossos professores nunca mais virem fantasmas. Parabéns a todos nós por nosso dia!

“Branca Dias” – o documentário

Por meio de entrevista com o Dr. Cândido Pinheiro Koren de Lima, especialista no assunto, o filme examina a importância histórica de Branca Dias, considerada a primeira educadora brasileira e progenitora de inúmeras gerações que se espalharam pelo Nordeste.  O filme conta ainda com trechos do videoclipe “Branca Dias” (Fortuna – Novos Mares).

    AD Luna

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