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“Tocar ao vivo virou um ato de resistência!”, diz Rogerman da olindense Bonsucesso Samba Clube
“Hoje você tem que ser um gerente, tem que ser um empresário de você mesmo, um auto gestor e aí tem que ter gente que filme, tem que ter gente que edite ou você aprende a fazer tudo. E quem não tem esse talento, quem não tem esse dom, quem não tem essa facilidade?”, questiona Rogerman, da Bonsucesso Samba Clube
Por AD Luna
Celebrando 25 anos de história, a Bonsucesso Samba Clube se destaca como um projeto musical que evoluiu ao longo do tempo, mantendo sua essência de liberdade criativa. Nessa entrevista, Rogerman, vocalista e fundador da banda, compartilha com o programa InterD – ciência e cultura detalhes sobre a formação do grupo, as influências que moldaram sua sonoridade e as transformações da indústria musical ao longo dos últimos tempos. Ele também reflete sobre o cenário atual para a música autoral em Pernambuco e a experiência única da música ao vivo como resistência frente ao domínio das plataformas digitais.
Rogerman observa uma contradição no mercado atual. Por um lado, ele reconhece que a internet proporciona uma rede mundial de acesso à música, mas, por outro, ela também é extremamente seletiva. “Nunca foi tão seletivo. Nunca se exigiu tanto de um compositor, de um músico, de um cantor, de um intérprete”, comenta.
E como fugir dessas amarras proporcionadas pelos novos tempos?
“Acho que o próximo passo… Acho que vi Juliano Holanda falando uma vez sobre isso. Se não me engano, ele escreveu alguma coisa. Cada um vai ter sua própria rede, ou melhor, cada um vai ter seu próprio streaming, sua própria plataforma. E é uma coisa que venho pensando”, aponta.
“Talvez a gente volte ao site. Seria muito legal que o governo brasileiro criasse uma plataforma brasileira, com conteúdos mais direcionados para coisas saudáveis e não ficar na mão das big techs gringas,”, sugere.
A Bonsucesso Samba Clube celebra sua história no dia 31 de janeiro, às 19h, no Fogo de Occa, em Olinda. Liderada por Rogerman, um dos compositores do hit “Quando a maré encher”. A comemoração inclui apresentação da banda e discotecagem.
Na edição #54 do programa InterD, Rogerman cedeu uma versão inédita de “Quando a maré encher”, com a Bonsucesso Samba Clube. Ouça no link disponibilizado ao final do texto.
Abaixo, LEIA E OUÇA a entrevista. Ao final, ouça clique em link para ouvir o programa na íntegra
O InterD é veiculado todas as quartas, às 20h, na rádio Universitária FM do Recife, nas plataformas digitais (inclusive no YouTube) e no site www.interd.net.br .
INTERD – Como surgiu a ideia de formar a banda e como era a proposta sonora naquela época?
Bem, a ideia de formar Bonsucesso surgiu já no meu último ano na Eddie. Eu entrei como vocalista pra Eddie, acho que fiquei um ano como vocalista. Aí Maninho, que era baixista, saiu da banda. Como eu tocava violão, assim, en passant, meio na greia e meio na brincadeira, Fabinho [Trummer, atual vocalista e guitarrista] chegou pra mim e disse: “Pô, tu toca violão?” Eu falei que sim, e ele: “Beleza, então tu vai tocar baixo, tu vai pro baixo, eu vou voltar pro vocal, porque a gente fica um power trio e tal, e vamos embora.” Ele disse, beleza, pra mim foi um desafio, massa também.
E a Eddie tinha músicas com uma característica muito própria. Então acho que é tipo Otto cantar as músicas de Otto, tá ligado? Tem uma coisa que é muito importante que o autor cante. Claro que outras pessoas podem fazer versões, mas no trabalho da banda ou do artista é muito importante que tenha a interpretação do autor ali nas letras. Como Fabinho é o compositor principal da Eddie, na época a gente dividia mais a parte musical e tal.
Então eu entro pro contrabaixo, Fabinho fica na voz, Bernardo na bateria. A gente fica um tempo assim, e nesse… aí pronto, tem toda a trajetória na Eddie, Sonic e Mambo e tal, gravado nos Estados Unidos, pela Roadrunner e tal. Quando foi meu último ano, eu já estava compondo muito em casa, mas eram canções que não cabiam na Eddie. Eram coisas que tinham viés mais de MPB.
Eu sempre tive uma escola muito grande de MPB em casa, com minha família. Minha mãe era completamente apaixonada por Alcione, Agepê, Roberto Carlos. Meu irmão mais velho, Edgar, tinha um viés de Zizi Possi, Joyce. Meu tio ouvia muito 14 Bis, A Cor do Som. E eu gostava de rock também. Muito jovem, já tinha uns discos do Led Zeppelin lá em casa, ouvia, achava incrível. Então tive uma formação musical muito rica. Meu pai ouvia música erudita, música clássica.
Quando comecei a compor mesmo, vi que tinha uma facilidade para compor, e isso não casava com a Eddie. Aquilo foi aumentando, aumentando, e eu disse: “Poxa, eu queria então montar uma banda, montar um projeto musical que eu possa expor isso, levar isso adiante.” E aí coincidiu que a Eddie tinha gravado o disco nos Estados Unidos, o Sonic e Mambo. Houve um atraso brutal no lançamento. A própria empresa lá, a Roadrunner em São Paulo, passou por reformulações. O cara que contratou a gente tinha saído, entrou outro cara, que era até um argentino, me lembro da época. O cara não botou muita fé na gente. Achava que não ia dar em nada e ficou atrasando. Demorou oito meses, muita pressão, muita briga, blá-blá-blá.
Nesse período, Berna já tinha saído e aí a banda ficou no hiato, um momento muito estranho. Fabinho estava com a proposta de começar um projeto com [Orquestra} Santa Massa e tal [projeto de Hélder Aragão, o DJ Dolores]. Eu acho que acabei sentindo o clima naquele momento como um momento de vácuo. Eu disse: “Não, então eu vou me jogar aqui e vou montar um projeto que tenha a ver com essa musicalidade, com essa coisa que componho.”
E aí, em janeiro de 2000, fundo a Bonsucesso Samba Clube junto com Zé Guilherme e Gilberto Campello, que era na época do Sagrama, e acabamos formando um trio. Dali começaram as primeiras experiências.
OUÇA A ENTREVISTA
INTERD – Durante esses anos, muitas coisas aconteceram na indústria e no modo de fazer e divulgar música. O que te causou mais impacto na sua motivação em fazer música?
Olha, a indústria mudou 360 graus. Mil por cento. Antes nós tínhamos um monopólio de, sei lá, vou falar aí, vou chutar um número, mas no máximo 10 empresas, de gravadoras grandes mesmo. Talvez um pouco mais, um pouco menos, as que realmente mandavam no mercado e faziam a coisa acontecer. E hoje nós temos uma, que é o Spotify. Tem a Amazon, tem o Deezer, tem tal, mas não impacta. Pelo menos essa é a minha percepção. Eu posso estar errado, sou um cara que foi meio ultrapassado. Então pode ter coisas surgindo ontem, que surgiram ontem, que estão aí revolucionando e eu não sei.
Mas assim, até onde eu sei, até onde eu consigo enxergar, que não é um horizonte tão grande assim, por conta das mudanças muito radicais em tão pouco tempo – e eu não fiz muita questão de estar participando… Eu fui nos primeiros, naqueles primeiros encontros de economia criativa e tal, ainda participei no começo e tal, depois todo ano que eu ia, escutava a mesma coisa, aí eu não prossegui. Talvez tenha sido um vacilo, talvez tenha sido um erro, mas não prossegui.
E hoje vejo uma indústria extremamente controlada. Vi a Melina Hickson falar um dia desse em uma entrevista, ela meio que comentando um pouco sobre isso. Ela estava vindo de um Womex, fez um vídeo [a respeito]. E eu enxerguei assim, que acho que não estou tão errado, porque hoje nós temos artistas mainstream, nós temos artistas médios que sobrevivem praticamente, basicamente, das bilheteiras dos shows que fazem, que conseguem botar de 300, 400 200, 300 pessoas de público para cima.
E e os artistas que estão sobrevivendo à margem disso, pegando as migalhas do restante, sobrevivendo praticamente da noite, de barzinhos. Foi montar banda cover, para poder sobreviver, coisas que nos anos 90 e nos anos 2000 não existiam nesse mercado. Existia, mas era muito pequeno, mais restrito a uma classe média alta, que gostava de cover de Bon Jovi, e U2, mas hoje você tem de tudo, principalmente música brasileira, que tem um lado bom também. O primeiro que abriu, tem mais emprego para a galera, para trabalhar e mais diversidade nas canções, nos covers, isso não é um lado ruim necessariamente, mas virou o grande bolo. A coisa está reduzida. Quem se estabilizou ali naquele público X, está se mantendo a duras penas.
Show mainstream, por exemplo, os grandes festivais… é a mesma grade. Todo mundo que estava no festival passado está naquele festival, muda a ordem, insere um, pinga do outro ali, mas basicamente é a mesma grade, a mesma turma. Não é uma crítica, é um atestado, é uma confirmação, uma reafirmação do que está acontecendo, que foi o que acabou se tornando. Eu vejo que os festivais antigos apostavam em novidades, os artistas não precisavam estar bombados para poder estar no festival.
Pegavam, claro, os nomes mais poderosos da época, botavam para atrair o público, mas a grade que vinha na sequência era de artistas muito promissores, ou revolucionários, artistas que estavam inovando, que estavam trazendo coisas, experimentos, era uma tendência. Tinha mais gente experimentando coisas, e os festivais não ficavam tanto em cima de um tipo de música.
Me lembro de ver Abril pro Rock no Circo Maluco Beleza, que era Devotos, depois tinha Lia de Itamaracá, Delta do Capibaribe, que era blues, e na sequência vinha uma banda de metal, Sepultura. Então era uma coisa bem diversa. Hoje vejo umas coisas mais parecidas, mais em bloco. Existem uns gêneros e estilos muito definidos em bolhas, que se sustentam na internet. É a forma que as coisas se apresentam hoje. Isso não é necessariamente uma crítica, mas uma visualização do processo. Vejo uma indústria mais controlada, menos espontânea.
Acho que a internet [foi em seus] dez primeiros anos realmente revolucionária, no sentido em que muita gente conseguiu muita coisa sem ter um apoio, sem ter uma grana por trás, sem ter empresas. Mas a indústria aprendeu a lidar com isso e controlou. O YouTube aprendeu a controlar isso.
Surge o Spotify, surge o streaming. Então tem que ir para o streaming. Não tem como você não lançar no streaming.Todo mundo migra para o streaming. Então nunca foi tão controlado. Aí os algoritmos, se você não paga, o algoritmo deixa você numa bolha de 50, 60, 100 pessoas. Precisa de algo muito, muito, muito, muito assim, um alinhamento planetário para que você saia dessa bolha sem necessitar de pagamentos, de você ficar fazendo tráfego pago. Então perdeu muito da espontaneidade do processo.
Acho que está mais difícil você se projetar. Mesmo as pessoas falando: “Ah, mas a internet é um ambiente mundial”. Mais ou menos. Além de você ter que pagar para estar trafegando ali, para você ter os algoritmos a seu favor… Claro que existem estratégias para você fazer isso, mas demanda investimento, demanda gente. Você tem que ter equipe, tem que ter uma constância quase que diária, você produzindo vídeo, isso demanda investimento, isso demanda equipe.
Tem muito artista que não tem esse viés empresarial ou essa articulação tão bem estruturada e se ferra por conta de uma personalidade, por conta de um jeito. É muito mais dedicado à criação do que essa coisa de gerenciamento de carreira e aí vive um conflito.
Hoje você tem que ser um gerente, tem que ser um empresário de você mesmo, um auto gestor e aí tem que ter gente que filme, tem que ter gente que edite ou você aprende a fazer tudo. E quem não tem esse talento, quem não tem esse dom, quem não tem essa facilidade? Então você acaba afunilando o negócio para um determinado tipo de profissional. Se você não tem 30 habilidades, está fora do mercado. Então acho, comento com os amigos que nunca vi o mercado tão controlado e tão afunilado, tão seletivo.
Então há uma grande contradição. Há uma rede mundial e ao mesmo tempo nunca foi tão seletiva. Nunca se exigiu tanto de um compositor, de um músico, de um cantor, de um intérprete que saiba 30 coisas para poder fazer sua autogestão até que consiga montar uma equipe e ir adiante com isso.
Acho que o próximo passo… Acho que vi Juliano Holanda falando uma vez sobre isso. Se não me engano, ele escreveu alguma coisa. Cada um vai ter sua própria rede, ou melhor, cada um vai ter seu próprio streaming, sua própria plataforma. E é uma coisa que venho pensando.
Talvez a gente volte ao site. Até porque as plataformas viraram instrumentos da extrema direita, neonazistas. E acho que o ideal era que saíssemos disso, migrássemos disso, fossemos para outra coisa. E acho que, inclusive, seria muito legal que o governo brasileiro, na minha opinião, criasse uma plataforma brasileira e pudéssemos migrar para lá, tendo conteúdos muito mais direcionados para coisas saudáveis e tudo, e não ficar na mão das big techs gringas. E é isso.
INTERD – O que você pensa a respeito dos espaços atuais para a música autoral no Recife, Olinda e Região?
Questão de espaço, acho que não tenho uma ideia muito clara, porque nunca tivemos um momento ideal de ter espaços no Recife, Olinda ou em Pernambuco. Nunca houve um cenário que pudéssemos dizer “está perfeito, melhor do que isso é impossível”. Sempre houve déficit. Nos anos 90, a geração explodiu com tantas atrações, bandas, artistas e músicas sendo feitas, mas os espaços não correspondiam.
Hoje, também vejo muita gente boa – compositores, compositoras, intérpretes – que não têm o espaço devido. Ainda assim, existe um circuito que as pessoas utilizam para trabalhar e mostrar seus trabalhos. Vejo a indústria hoje, com todo esse controle que mencionei, mas a música ao vivo se tornou uma forma de resistência. É uma experiência presencial que contrasta com o digital. Ouvir música no digital é algo momentâneo – enquanto se faz um chá, café, almoço, faxina, ou se está dirigindo. Mas a experiência ao vivo não tem nada parecido.
Estar presente, vendo o artista cantando, a musicista tocando – por exemplo, Lais [de Assis] tocando uma viola incrível, Martins com aquele timbre de voz absurdo e suas composições, Isadora com aquela entrega visceral, Isaar com brilho, ancestralidade e história. Karina Buhr com aquela irreverência, contestação e força em performance ao vivo incrível. É algo único.
O ao vivo se tornou a grande manifestação de resistência frente à ascensão dessas plataformas que controlam tudo. Se você não investe, fica preso numa bolha minúscula. Por isso, é preciso ir para a rua, tocar, mostrar. É uma forma de quebrar um pouco essa questão dos algoritmos.
O ato de tocar ao vivo virou um ato de resistência!
INTERD – E como está a sonoridade da Bonsucesso Samba Clube atualmente?
O som da Bom Sucesso atualmente é algo muito peculiar. Gosto de dizer “a” Bom Sucesso porque é um experimento muito interessante. São quatro discos, cada um completamente diferente, com formações distintas. Não são os mesmos músicos em todos os discos. Um ou outro permaneceu, mas geralmente há mudanças de quase 100%. A única constante sou eu, já que entre os discos há hiatos de quatro, cinco, seis, até oito anos. Nesse período, a banda parou, os integrantes mudaram e as influências também.
Hoje, a banda tem quatro discos que não seguem uma sequência de continuidade estética. Alguns dialogam entre si, mas não de forma linear. Não há dois ou três discos semelhantes consecutivamente. Eles refletem influências diferentes, que aparecem mais na forma de compor e no sotaque das composições do que em uma direção planejada. Não houve uma decisão de permanecer em um gênero porque deu certo, como continuar fazendo hip hop ou frevo após o sucesso de um disco. Essa liberdade criativa mostra a riqueza do projeto, que não se prende à necessidade de agradar ou fazer sucesso, permitindo uma liberdade artística completa.
Por outro lado, essa característica dificulta criar uma identidade unificada. Quem gosta do primeiro disco pode não se identificar com o segundo, e o inverso também acontece. Há quem prefira o terceiro ou o quarto, e se você comparar o primeiro com o quarto, nem parece a mesma banda. É um grande laboratório musical, com destino sempre incerto e uma liberdade de criação que define a essência do grupo.
A Bom Sucesso Samba Clube é sui generis enquanto proposta artística. Essa liberdade criativa, porém, dificulta a penetração em um público maior. Cada disco reflete o momento musical, político, cultural, emocional e psicológico do criador – no caso, eu – e da formação musical dos músicos envolvidos no projeto. Isso resulta em uma sonoridade que muda a partir dessa interação entre mim, como compositor e fundador, e os músicos que participam de cada disco.
O último trabalho, “Praia dos Milagres”, é um exemplo dessa diversidade. É um disco sutil, com arranjos sensíveis e timbres trabalhados. Passei muito tempo ouvindo música de Cabo Verde para captar a sonoridade, as guitarras e as melodias que me inspiravam. Porém, no processo de composição com a banda, surgiram elementos de disco, reggae e até rock progressivo. Apesar disso, são apenas trechos, pois é raro uma música manter o mesmo estilo do início ao fim, havendo mudanças fortes de arranjo entre os versos.
A Bom Sucesso não segue uma fórmula. Não consigo apontar uma banda ou artista que lembre diretamente o nosso som. Talvez uma música ou outra permita essa relação, mas o conjunto do trabalho é muito único. Há pitadas de Eddie, Alceu Valença, reggae, música latina e Cabo Verde, mas nunca de forma homogênea ou com uma linguagem única. Não temos um disco de reggae, de rock ou de psicodelia nordestina que defina esteticamente o trabalho. É tudo muito solto, o que traz benefícios criativos, mas também dificuldades em termos de identidade e recepção.
INTERD – O que o público pode esperar do show da Bonsucesso Samba Clube e quais os planos da banda para 2025?
Bem, para 2025, a minha cabeça está funcionando assim. Tem esse evento agora, dia 31 de janeiro, uma festa mais reduzida lá no Occa, para a gente curtir e celebrar os 25 anos. A gente vai fazer um repertório que passa pelos quatro discos. E, para 2025, eu gostaria muito de homenagear o primeiro disco. Estou querendo fazer um show do primeiro disco da banda, o homônimo Bonsucesso Samba Clube.
Foi um disco gravado com bases e tal, uma produção muito complexa. A gente foi para São Paulo, teve uma pré-produção aqui com Berna, Berna Vieira, Bernardo. Depois, em São Paulo, fizemos mais gravações, edições, mixagens com o selo YBrasil, com a produção do núcleo Instituto. Na época, Rica Amabis, Tejo Damasceno e Ganjaman fizeram um trabalho absurdo.
É um disco muito complexo, então quero fazer uma pesquisa para pegar essas bases, retomá-las e refazê-las, criando um show que reflita como o primeiro disco foi gravado e tocado, com bases eletrônicas. Queria homenagear esse trabalho, porque era algo que deveria ter sido feito em 2023, mas acabou passando batido.
Em 2025, quero muito trazer esse trabalho à tona, divulgar, fazer vários shows e eventos com o mote dos 25 anos. Também quero trazer convidados, talvez músicos que passaram pela Bom Sucesso.
Tive outra ideia: gostei da possibilidade de montar um show da Bom Sucesso tocando outros artistas que nos influenciaram ou foram relevantes nesses 25 anos. Seria massa. Quem influenciou a Bom Sucesso? Quem chegou junto? Jam Silva passou pela Bom Sucesso, então poderíamos tocar uma ou duas músicas dela. Karina Buhr também passou pela banda, então tocaríamos Karina Buhr.
Zé Guilherme tem um puta trabalho. Gilberto Campello, Chico Tchê, André Edipo, que hoje mora na Espanha, todos têm trabalhos incríveis. Tantos outros artistas passaram por nós na Bom Sucesso e hoje têm carreiras relevantes: Berna Vieira, Yuri Queroga, que foi produtor do Terceiro e é um puta produtor e músico incrível.
Não sei, ainda não estou firme na ideia de fazer discos, talvez seja melhor fazer singles. O mercado hoje está bem forte nisso, e não há muito espaço para discos. As pessoas não param mais para ouvir um disco inteiro. Mas também posso mudar de ideia…
Foda-se, vou fazer disco. Quem não quiser ouvir, não ouça. Quem quiser, ouve. Também é importante bater de frente com o establishment, com o status quo.
Talvez, para ser mais dinâmico, eu lance singles e depois compilações. Estou estudando isso, porque, mesmo que gravar tenha barateado bastante em relação ao passado, ainda tem um custo.
Como o mercado para trabalhos como a Bom Sucesso não está fácil, com espaços bem reduzidos, é complicado mobilizar alguns milhares de reais para fazer algo como gostaríamos. Por exemplo, o Praia dos Milhares demorou dois anos. Tudo bem, começamos a compor e ensaiar no meio da pandemia.
A gente ia para um quintal aberto, ficava ensaiando, cada um a uma distância confortável, de máscara. Nos encontrávamos toda quarta-feira por um ano, compondo e arranjando. Depois disso, foi mais um ano ensaiando e gravando. Dois anos de trabalho.
Hoje não temos mais esse tempo.
Então talvez os singles sejam a solução para essa agilidade, para mostrar coisas novas, possibilidades e trabalhos, com mais dinamiso, porque o mundo está assim. Depois, compila tudo, lança um trabalho com duas ou três inéditas e, quem sabe, um disco.
A princípio, seria isso. Várias ideias, vontades, mas só o tempo vai dizer. O projeto principal seria montar esse show do primeiro disco, que é um desejo antigo e um pedido recorrente. Quando alguém nos encontra ou encontra o vinil desse primeiro disco, sempre pedem. Vamos trabalhar em cima disso.
OUÇA O PROGRAMA NA ÍNTEGRA, COM AS MÚSICAS DA BONSUCESSO SAMBA CLUBE, INCLUINDO VERSÃO INÉDITA DE “QUANDO A MARÉ ENCHER”, CLICANDO AQUI
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