Bisturi virtual trata tumor da jogadora de vôlei Ju Mello

 Bisturi virtual trata tumor da jogadora de vôlei Ju Mello

A jogadora de vôlei Juliana Mello (Ju Mello). Foto: Reprodução

 

 

Conhecido por CyberKnife, equipamento permite atacar células tumorais de maneira não invasiva e com precisão submilimétrica

A jogadora de vôlei Juliana Mello (Ju Mello), 26 anos, com passagens por São Caetano, Flamengo e Osasco, entre outros times, foi submetida no dia 16 de março, a um procedimento no Hospital Vila Nova Star, da Rede D’Or, em São Paulo, como tratamento definitivo de um tumor benigno no cérebro.

Trata-se de uma radiocirurgia realizada com o CyberKnife, um bisturi robótico virtual que permite atacar o tumor por meio da emissão de raios fótons com exatidão submilimétrica. “O dispositivo robótico, não invasivo, proporciona um tratamento altamente preciso para tumores selecionados de maneira apropriada”, afirma o neurocirurgião Antônio De Salles, um dos pioneiros da técnica nos Estados Unidos e integrante do corpo clínico do Hospital Vila Nova Star. Ao lado do inventor do equipamento, John Adler, neurocirurgião da Universidade Stanford, De Salles implantou no sul da Califórnia o segundo CyberKnife do mundo.

O procedimento da jogadora durou cerca de meia hora e foi considerado um sucesso pela equipe médica. “Saí do hospital com o sentimento de recomeço, de uma vida nova”, conta Juliana, que, além da família, recebeu o apoio de grandes nomes do vôlei como Jaque, Nalbert e Bruninho. “Fiquei muito feliz com toda a solidariedade que recebi de companheiros de esporte, torcedores e ex-técnicos.”

Fabricado no Vale do Silício, nos EUA, o equipamento do Vila Nova Star é o único do Brasil. Funciona por meio de cálculos ultra complexos feitos para que se possa administrar altas doses de radiação em uma determinada região do cérebro em uma única aplicação ou poucas aplicações.

O robô se move e se curva ao redor do paciente, abordando a área a ser tratada de milhares de ângulos únicos, expandindo as posições possíveis para concentrar a radiação no tumor, minimizando a dose para o tecido saudável ao redor.

“É uma abordagem extremamente precisa, com menos riscos, que permite um índice de sucesso de cerca de 97%”, diz a neurocirurgiã do Hospital Vila Nova Star, Alessandra Gorgulho, referência mundial em cirurgias do cérebro minimamente invasivas.

A médica conta que uma cirurgia convencional para a retirada de um tumor semelhante ao de Juliana, dependendo do tamanho, carrega um risco variável de 15% a 70% de deixar o paciente com prejuízo de movimentos na face ou paralisia facial. Com o CyberKnife, o risco cai para 1.5-2%.

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CyberKnife, bisturi robótico virtual. Divulgação

O procedimento não elimina o tumor, mas o invalida geneticamente, esterilizando as células tumorais, fazendo com que ele não cresça. Na maioria dos casos, pode diminuir de tamanho. Dessa forma, o tumor torna-se uma cicatriz interna e não prejudica a qualidade de vida do paciente. “O efeito físico da radiação no tumor é imediato, mas o biológico se dá de 6 a 18 meses após a aplicação”, explica Alessandra Gorgulho.

Em fevereiro do ano passado, Juliana começou a perceber que estava perdendo a sensibilidade no lado esquerdo do rosto. Pouco tempo depois, notou uma perda de parte da audição. O diagnóstico veio em agosto: neurinoma do acústico, um tumor benigno no nervo principal que vai do ouvido interno até o cérebro. Ele costuma crescer lentamente e, aos poucos, passa a pressionar o cérebro, afetando funções vitais como o equilíbrio e a audição.

Quando não é tratado adequadamente pode levar a déficits neurológicos severos, como fraqueza muscular que pode afetar a simetria da face e até dos músculos do corpo no lado oposto ao tumor no cérebro. “O tumor da jogadora está com três centímetros no seu maior eixo e ainda passível de ser tratado com esta técnica robótica”, afirma Alessandra.

De tão complexo, o planejamento da sessão com o CyberKnife envolveu, além da neurocirurgiã, uma equipe formada por radio-oncologistas e físicos médicos liderados pela médica Karina Moutinho, coordenadora de radioterapia do Hospital Vila Nova Star. Diversos testes foram feitos para se chegar à dose terapêutica e a melhor maneira de aplicá-la.

Após a radiocirurgia, Juliana vai precisar fazer um acompanhamento clínico com ressonâncias magnéticas de controle a cada 6 meses pelos próximos dois anos. “Já estou em negociações para fechar com um time para a próxima temporada”, revela a jogadora, que já está liberada para os treinos.

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