Por Renata Reynaldo*
Lagarto nascido do fogo do Museu Nacional. É assim que se traduz o nome do mais novo dinossauro identificado no Brasil. Encontrado e analisado por pesquisadores da UFPE, Universidade Regional do Cariri e Museu Nacional/UFRJ, grupo liderado pela professora Juliana Sayão, que atuava no Centro Acadêmico de Vitória (CAV-UFPE), o Aratasaurus museunacionali tem outra curiosidade: apresenta formas com ocorrência até então restritas à América do Norte e à China, o que leva os paleontólogos a concluir que “esse grupo de animais era mais diversificado e tinha uma distribuição mais ampla do que se supunha”.
O estudo de identificação do Aratasaurus – “ara” e “atá” no Tupi significam “nascido” e “fogo”, e “saurus” vem do grego e quer dizer “lagarto” –, partiu de um único fragmento, uma perna direita, encontrado em rochas que recebem o nome de Formação Romualdo, na região da Bacia do Araripe, área rica em fósseis que se estende pelos estados de Ceará, Pernambuco e Piauí.
A amostra é classificada no grupo dos celurossauros, que surgiram há cerca de 168 milhões de anos, no período Jurássico Médio, e englobam muitas formas de dinossauros, incluindo as aves recentes.
O nome da espécie, museunacionali, é uma homenagem ao primeiro museu fundado no Brasil, em 1808, que foi vitimado por um incêndio de grandes proporções em 2018. O exemplar agora revelado não foi afetado por estar em um laboratório anexo ao palácio.
Segundo Juliana Sayão, que desenvolveu a maior parte da pesquisa no Laboratório de Paleobiologia e Microestruturas do CAV-UFPE, e hoje é docente na UFRJ, os fósseis descobertos na região estudada estão preservados em nódulos calcários, com exceção do Aratasaurus, que foi encontrado em uma placa de folhelho (rocha escura composta por finas lâminas de sedimentos com grãos do tamanho dos de argila), procedente de uma camada situada na base da Formação Romualdo.
“Isso indica alguns milhares de anos a mais do que a camada com os nódulos calcários”, explica. A formação dessas rochas é estimada entre 115 e 110 milhões de anos, um período geológico denominado de Cretáceo Inferior. “É o primeiro registro de dinossauro nessa parte da Formação Romualdo, o que abre a possibilidade para novos achados no futuro”, sugere a pesquisadora.
Os dados de identificação apontam que o Aratasaurus tinha pouco mais de 3m de comprimento e uma massa entre 34 e 35 kg, estando, portanto, ainda em fase de crescimento, sendo um jovem que poderia alcançar dimensões maiores quando adulto. “Deveria ser um predador ágil, que corria pelas margens de lagos à procura de alimento, possivelmente pequenos animais, e é provável que seu corpo fosse recoberto por estruturas filamentosas interpretadas como protopenas, assim como muitos outros celurossauros”, revela a pesquisadora.
A identificação oficial do novo dinossauro foi publicada na prestigiada publicação Scientific Reports com o artigo “The first theropod dinosaur (Coelurosauria, Theropoda) from the base of the Romualdo Formation (Albian), Araripe Basin, Northeast Brazil”, com autoria conjunta de pesquisadores brasileiros e chineses.
*Repórter da Ascom UFPE
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