André Jung fala sobre ditadura, Ira! e da saída dos Titãs: “Aquilo me deixou abalado” [Memória]

 André Jung fala sobre ditadura, Ira! e da saída dos Titãs: “Aquilo me deixou abalado” [Memória]

André Jung e AD Luna. Reprodução YouTube

 

Nascido no Recife, Jung falou sobre relação do pai com Miguel Arraes e da fuga para São Paulo

Por AD Luna
@adluna1

O Showlivre é um site de vídeos, com sede em São Paulo, especializado em música. Atualmente, o veículo está mais focado no Estúdio Showlivre – o qual, como o nome já sugere, promove apresentações de artistas em suas instalações.

Mas já houve um tempo em que o veículo também investia em programas de entrevistas. Um deles era o Mão na Massa, criado por este que vos escreve e que se propunha a mostrar o “maravilhoso mundo do fazer musical”.

Além de cantores e cantoras, que falavam sobre suas inspirações, o MNM também apresentava o trabalho de instrumentistas e outros profissionais da cadeia produtiva da música.

Nesta edição de julho de 2007, fui com minha gloriosa camisa do vitorioso Íbis à casa do baterista André Jung, então integrante do Ira!

Na época, o grupo estava lançando o disco “Invisível DJ”, com produção de Rick Bonadio. Foi o primeiro álbum lançado depois do “Acústico MTV Ira!”, de 2004 – que foi um grande sucesso na época. “Invisível DJ” serviu também como marco dos 25 anos do quarteto paulistano.

Abaixo os dois vídeos da entrevista e transcrição editada do vídeo um, no qual Jung fala sobre o tempo em que a família dela precisou fugir do Recife para São Paulo, por causa da ditadura militar, e da sua saída dos Titãs. “Aquilo me deixou abalado, claro, foi uma puxada de tapete. Você fica sem chão”, disse ele na entrevista.

AD Luna – Como é que você começou a se interessar por música?

André Jung – Olha, acho que começou no início da adolescência [quando passei a] a ouvir música decodificando mais as coisas e tal. Estudava flauta doce, gostava muito de música barroca e tal. E, como sou de família nordestina, nasci no Recife, família exilado em São Paulo, porque nós tivemos que fugir de lá em 1964. Meu pai era ligado ao Miguel Arraes e esteve preso lá, naquele momento difícil.

Aqui, não só meu pai como outros pernambucanos montaram uma espécie de núcleo. Então tinha uma certa coisa saudosista, de ficar ouvindo aquelas coleções de música popular do Nordeste, Quinteto Armorial, Quinteto Violado.

Um pouco mais velho, eu tinha muitas inclinações políticas. A gente ainda vivia aquela época difícil da ditadura militar, e eu tinha a intenção de ser jornalista, na verdade.

Quando passei no vestibular para jornalismo, o trunfo com meus pais era: “se eu passar, você me dão um contrabaixo?”. E aí passei, entrei na ECA [Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo] e ganhei o contrabaixo.

Mas, mais uma vez o destino atropelou essa história, porque me chamaram para tocar percussão num grupo da escola. Comecei a ficar cada dia mais fascinado, interessado em estudar. Vendi o meu baixo, comprei uma zabumba e uma cuíca. Fui recenciador no senso de 1980 para poder comprar minhas primeiras congas. E daí fui parar na bateria bem depois, no meu aniversário de 20 anos… Não foi bem depois, foi em 1981.

Pouco depois fui chamado para entrar nos Titãs. Ainda usei ela [a primeira bateria] muito tempo nos Titãs, até poder comprar minha primeira bateria importada.

Depois de um tempo tocando com os Titãs, fui morar junto com o Nasi, vocalista do Ira!. Nessa época, por coincidência ou talvez explicando que coincidência não existe, o Edgar [Scandurra, guitarrista] morava com o Gaspa [baixista], no mesmo bairro em outro apartamento, em Pinheiros, aqui em São Paulo.

Eu era um grande fã do Ira! Ia nos ensaios, conhecia os arranjos todos… O Nasi voltava dos shows e a gente ia ouvir juntos as gravações que ele sempre fazia num gravador box, aqueles antigos cassetes que o pessoal que o pessoal do hip hop gostava.

Como todos tocávamos em vários grupos, também tinha uma discussão sobre qual era o grupo que devia ser prioridade e tal. E eu dizia para o Nasi: “É o Ira!, cara, o Ira! é a banda, é o lance!”.

Nessa época o Nasi cantava no Voluntários da Pátria. Eu tocava no tocava no Sossega Leão também, que era um grupo aqui de São Paulo, grande. Era uma espécie de orquestra de salsa.

Acabei ficando nos Titãs e aí, no Réveillon de 1984 para 1985, nós tínhamos um show, no Mamão com Açúcar, no Rio de Janeiro. Era uma noite de gala, tinha Lobão e Titãs tocando aquela noite. Fiz aquele show e, logo na manhã seguinte, fiquei sabendo que aquele foi meu último no Titãs – que foi bem nas primeiras horas de 2005 [na verdade, 1985], fui despedido dos Titãs.

Eu estava lá no Rio para passar vários dias, estava na casa da Alice Pink Punk, que uma das Absurdettes e tal. [Nota da redação: esse era o nome artístico de Alice Vermeulen, que foi backing vocal da banda Gang 90 e as Absurdettes].

Mas aquilo me deixou abalado, claro, foi uma puxada de tapete. Foi uma sensação assim… que você fica sem chão.

No dia 2, o Nasi chegou em São Paulo, à noite, e nesse mesmo dia ele me convidou para entrar no Ira! Então fiquei um dia desempregado e já estava no Ira!

Na parte 1 da entrevista, André Jung fala da sua relação com Pernambuco, ditadura e da saída dos Titãs. “Aquilo me deixou abalado”

André Jung, então baterista do Ira!, fala sobre o disco “Invisível DJ”, produzido por Rick Bonadio

 

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