Alceu Valença fala de frevo, rock e Gonzagão; assista
Por AD Luna – @adluna1
Vésperas do Carnaval 2018. Lá fomos eu, o guitarrista, cantor, publicitário, câmera e editor Eduardo Kalil, e o baixista, produtor de áudio e técnico de som Fernando Azula ao Sítio Histórico de Olinda. Mais precisamente para rua do Bonfim, onde fica a casa de Alceu Valença – um dos maiores nomes do Carnaval e da música de Pernambuco.
Na entrada, Júlio Moura, o simpático e bastante prestativo assessor de imprensa do cantor, compositor, poeta, ator e cineasta, nos informa da nova regra da casa: entrar sem sapatos. Tranquilo!
A julgar pela decoração e artefatos que decoram a casa, Alceu é uma pessoa bastante coerente quando diz valorizar elementos da cultura nordestina na sua arte e vida.
A estrutura de câmeras e microfones foi montada na aprazível sacada do primeiro andar, cuja vista para as outras casas e muito verde transmitem uma bem-vinda sensação de paz.
Especialmente para quem não aguenta mais o trânsito caótico e o crescimento desordenado da capital Recife.
Alceu chega também descalço, reclama que teve insônia durante a noite, mas se mostra disposto e animado para a conversa.
Naquele mesmo dia, ele recebeu outros veículos de comunicação.
Talvez por sua breve experiência como jornalista do Jornal do Brasil, o artista natural de São Bento do Una, tem uma boa relação com a imprensa.
Indagado sobre como monta o repertório para os shows do carnaval, ele diz fazê-lo como quem edita um filme.
No dia anterior, já havia ensaiado a lista da canções momescas com a sua sempre competente banda. Essa, inclusive, é uma característica relevante da sua trajetória.
Desde o início da carreira, o artista sempre foi acompanhado por excelentes músicos, nos estúdios e nos palcos. A exemplo de Paulo Rafael (companheiro de décadas, até hoje com ele), Zé da Flauta e César Michiles (flautas), Jorge Degas e Nando Barreto (baixistas), Firmino (percussionista), Jurim Moreira (baterista), Márcio Lomiranda (teclados), Cássio Cunha (titular das baquetas atualmente), entre muitos outros.
“Esses músicos que tocam comigo têm que se adaptar, evidentemente, à música que eu faço. Tem que ter um certo sentimento, um certo sentimento e um certo envolvimento”.
Fora do período do carnaval, a agenda de Alceu Valença segue movimentada. A ideia de montar diversos formatos de show certamente facilita essa dinâmica.
Há espetáculos montados com uma super banda, com inclusão de naipe de metais, Alceu só voz, violão e percussão, Alceu com Orquestra Ouro Preto.
Nas festas juninas, repertório com músicas próprias e de mestres como Luiz Gonzaga. Com o espetáculo Vivo! Revivo!, um Alceu mais elétrico apresenta faixas do lendário disco Vivo!, de 1976, acrescido de músicas de outros álbuns.
Em uma das apresentações do Vivo! Revivo!, realizada no Festival Psicodália, em Santa Catarina, é possível ver em dos vídeos que registraram o show, a participação empolgada da plateia bastante jovem.
Essa presença entusiasmada de pessoas com menos de 30 anos é fenômeno também observado em concertos atuais da setentista e também pernambucana Ave Sangria. Pergunto a Alceu a que se atribui tal interesse.
“Atribuio ao seguinte. Bossa nova é uma maravilha total. É uma música sensacional, com harmonia incrível. Mas é uma música mais calminha, né? A minha música, que vem de onde eu venho, do baião, com timbre até meio rock’n’roll… Isso faz com que as pessoas fiquem até pensando que eu faço rock”, analisa.
Aproveitando essa deixa, Alceu rememora conversa que teve com o Rei do Baião, a quem pediu que falasse sobre sua banda.
“Quando eu perguntei: ‘o senhor gosta do meu conjunto?’ Ele disse (imitando a voz de Gonzaga): ‘Eu adorei. É uma banda de pife elétrica’. É isso a melhor definição!”, empolga-se.
Já perto do fim da entrevista, Alceu contou a curiosa história por trás da composição de La belle de jour – que envolveu uma pequena confusão envolvendo as musas Catherine Deneuve e Jacqueline Bisset. Mas é muito melhor ouvir o caso contado pelo próprio autor da canção.
Câmera e microfones desligados, Alceu continou a conversar com a equipe, formada por três músicos. Entre os assuntos, as diferenças rítmicas entre balada e toada, as dificuldades dele em entrar no tempo de algumas composições. E também da vida em Portugal, país no qual ele comprou imóvel e tem viajado bastante pra lá. “Não tenho carro nem aqui nem lá. Pra quê? Só ando a pé pelas ruas de Lisboa”.