Cirurgia usa enxertos de nervos contra a disfunção erétil

Por preconceito ou desinformação, a disfunção erétil ainda é considerada como um assunto tabu, especialmente entre os homens. Apesar disso, a condição afeta pelo menos 50% dos brasileiros com mais de 40 anos, cerca de 16 milhões de homens, de acordo com a Sociedade Brasileira de Urologia.

As causas da impotência sexual podem ser de origem psíquica, como ansiedade, preocupação, depressão, estresse, medo e inseguranças, sendo muito comuns em pacientes mais jovens.

Há também situações orgânicas, geralmente relacionadas a problemas circulatórios e doenças crônicas, doenças degenerativas, acidente vascular cerebral, tumores do sistema nervoso central e traumatismos. E anatômicos ou estruturais, como distúrbios hormonais (tais como a falta de testosterona, que diminui a libido e compromete a ereção, e disfunções das glândulas tireoide e hipófise), além de cirurgias prévias na pelve, na próstata e na bexiga, radioterapia prévia e o uso de drogas.

Como é o tratamento

Cada caso deve ser sempre avaliado por um médico especialista, que irá indicar o tratamento mais adequado. Atualmente, os mais conhecidos são os medicamentos como o viagra, mas homens podem recorrer também a próteses penianas, mudanças no estilo de vida e até terapias sexuais.

Uma opção mais recente de tratamento é a cirurgia com enxertos de nervos, desenvolvida por pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade Estadual Paulista de Botucatu, interior de São Paulo.

“São retirados os dois nervos surais, nervos que promovem a sensibilidade na lateral dos pés, e colocados na região inguinal ligados na lateral dos nervos femorais, bilateralmente. A outra extremidade desses nervos é introduzida dentro dos corpos cavernosos do pênis”, explica o Dr. Fausto Viterbo, microcirurgião responsável pelo desenvolvimento da técnica.

Alguns meses depois dessa inserção, ocorre o crescimento dessas fibras nervosas, determinado uma conexão entre o pênis e o cérebro. A partir de então, o paciente começa a apresentar ereções. No início, ereções semirrígidas e com o tempo, na maioria dos casos, estas evoluem para ereções rígidas que permitem a penetração.

“Esse tratamento é totalmente inovador, uma vez que nada havia sido proposto até hoje no sentido de melhorar a ereção mediante a reinervação dos corpos cavernosos. Além de apresentar um resultado natural, ou seja, o paciente não necessita fazer nada para ter a ereção”, detalha o médico.

Como é a cirurgia e seu público-alvo

Para realizar a cirurgia, o paciente recebe uma anestesia geral ou peridural, um tipo de anestesia parcial que bloqueia a dor de apenas uma região do corpo. Então, são realizadas incisões nos dois lados da virilha, na base do pênis e nas laterais de ambas as pernas. O cirurgião retira o nervo sural, divide-o em dois, e insere cada metade em um lado da virilha.

O procedimento leva em torno de cinco horas e durante a recuperação há um treinamento de excitação, com masturbação e estímulos visuais que incentivam a ereção. Com exceção dos incômodos da cirurgia em si, Viterbo afirma que até hoje não foram registrados efeitos colaterais importantes. “Só houve a ocorrência de perda de sensibilidade na lateral dos pés, quase imperceptível”.

Os homens que precisam retirar a próstata por causa de um tumor aparecem como principal público-alvo da operação, já que a cirurgia de remoção deixa com frequência uma lesão no nervo cavernoso, que resulta em perda de sensibilidade. Mas outros grupos também podem se beneficiar, como diabéticos, que já foram operados por Viterbo e sua equipe, e também pacientes com traumas na bacia, que podem acarretar falta de circulação no local, gerando impotência.

A taxa de sucesso da cirurgia é de 60%, considerando como resultado esperado retomar a capacidade de penetração. “E os outros 40% demonstram vários graus de melhora na ereção, o que já muda a vida deles”, conclui Viterbo.

    DINO

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