Cães-guia transformam a vida de deficientes visuais em Pernambuco

 Cães-guia transformam a vida de deficientes visuais em Pernambuco

Labrador Retriever Khalil será os olhos do professor José Carlos Amaral. Foto: Moises Sales

 

Segundo dados do IBGE, o Brasil tem 500 mil cidadãos cegos e pelo menos 5,5 milhões de deficientes visuais

“Minha história com Aisha é muito bonita, é de companheirismo. Passei mais de 30 anos andando com uma bengala, sou cego desde os meus dois meses de idade. Andar com a ajuda de um cachorro foi algo desafiador e apaixonante ao mesmo tempo”. Essa é a relação entre a Golden Retriever Aisha, treinada no Kennel Club do Estado de Pernambuco – KCEP e Gustavo Tavares, um dos beneficiados pelo programa social mantido pela instituição.

Com apoio da Confederação Brasileira de Cinofilia-CBKC, a Escola de Cão-Guia de Cegos do Kennel Club do Estado de Pernambuco foi criada em 2010. Em 2013, comemorou a entrega do primeiro cão-guia formado pelo clube. O projeto é uma iniciativa sem fins lucrativos.

“Temos a intenção de ampliar este projeto e preparar mais cães-guias, mas para isso precisamos de um maior suporte financeiro. Atualmente, temos uma lista de espera de 10 pessoas”, conta Luiz Alexandre, presidente do KCEP.

A vida de um deficiente visual no Brasil enfrenta desafios mistos

O professor Gustavo Tavares Dantas, 43 anos, foi o primeiro beneficiado. Ganhou uma companheira inseparável. “É um presente de Deus. Estou há seis anos com ela e há seis anos que não saio sem a minha companheira. Ela é um pedaço meu. É um complemento do meu corpo”.

Independência, autonomia, segurança, inclusão social, dignidade. A vida de um deficiente visual no Brasil enfrenta desafios mistos que vão da estrutura urbana e dos espaços até o comportamento da sociedade.

Nesta quarta (28) Dia do Cão-Guia, mais um passo: o Labrador Retriever Kalil será os olhos do professor de educação física Carlos Amaral. “Estou muito feliz. Eu e a minha família estamos aguardando a chegada de Kalil! A expectativa é a melhor possível. A experiência de me locomover com um cão-guia não é inédita para mim, mas a expectativa de receber um novo cão-guia é animadora. É uma experiência de carinho, amor e doação. Me sinto privilegiado e muito grato”, revela Carlos Amaral ao lembrar do Golden Retriever Dino, o terceiro cão-guia treinado pelo KCEP e que faleceu em 2018.

Há uma média de 160 cães-guia treinados e trabalhando no Brasil

Segundo dados do IBGE, o Brasil tem 500 mil cidadãos cegos e pelo menos 5,5 milhões de deficientes visuais. Entre as alternativas de integração social e acessibilidade, a sinalização de pisos, ambientes, placas em braile e cães-guias são as principais ferramentas. Há uma média de 160 cães-guia treinados e trabalhando no Brasil. O número, nitidamente, não cobre a demanda e o motivo é aparente: existem poucos centros de treinamento no país, o que aumenta a dificuldade em conseguir um animal, além de subir o valor do treinamento necessário.

Em média, ocorrem em Pernambuco duas entregas por ano e a ação de preparo envolve o esforço de muita gente. “Os cães viveram com famílias acolhedoras voluntárias por cerca de um ano, até atingirem a idade para o treinamento técnico. Para realizar este projeto, o Kennel Club foi adaptado. Construímos um espaço com ruas, calçadas e sinais de trânsito para simular situações do nosso deslocamento do dia a dia para o cão e o deficiente. O espaço também conta com alojamentos para receber o contemplado durante parte do treinamento”, explica Luiz Alexandre Almeida, presidente do KCEP.

“Mesmo com a pandemia, conseguimos estabelecer protocolos sanitários para continuar o treinamento com segurança. Demorou um pouco mais do que o tempo de costume, mas o que importa é a felicidade de contar com mais um cão-guia formado no clube e fazendo a diferença na vida das pessoas”, resume Luiz Alexandre Almeida. Ele adianta que, ainda em 2021, outro cão será entregue. Além de Mamute, Kalil e Aisha, os cães-guia Simba, Argus, Luke e Jolie também foram formados pela Escola Cão-Guia de Pernambuco e circulam dando segurança, autonomia e inclusão social.

Para formar um cão-guia são necessários no mínimo dois anos e meio. “Desde a seleção do filhote, que deve reunir as habilidades comportamentais natas até a fase de adestramento, quando ele aprende os comandos, o uso da guia e ganha sua missão. Com alto investimento, a formação reúne acompanhamento da saúde do animal, nutrição adequada e muito treino. São cães especiais e formidáveis. É gratificante vê-los prontos nas ruas”, pontua Luiz Alexandre.

No Kennel Clube de Pernambuco, cães da raça Golden Retriever e Labrador Retriever são escolhidos para participar do projeto. São animais de comportamento dócil e grandes companheiros. Para quem não está familiarizado com os termos deste universo, Cinofilia significa amor aos cães. A Confederação Brasileira de Cinofilia-CBKC incentiva estimular as boas práticas da criação de cães de raça.

“É assim que habilidades fantásticas como as desses cães-guias, entre outras, são preservadas. A parceria entre cães e homens é fantástica em vários sentidos e o trabalho social desenvolvido pelo Kennel Club do Estado de Pernambuco evidencia a importância dessa atividade”, resume Fábio Amorim, Presidente da CBKC.

Ao estudar e preservar as características das raças, “é possível entender melhor o animal e seu relacionamento com homem, como, também, conhecer qual a raça que está apta a realizar serviços como cão-guia de cegos, companhia, busca, faro, entre vários outros”, resume Fábio Amorim.

Você sabe como agir com um Cão-Guia?

Os cães-guias são animais adoráveis, mas não devem ser distraídos enquanto estão guiando. É importante lembrar que o cão está trabalhando e não podemos distraí-lo com carícias, brincadeiras e, muito menos, petiscos. Eles são treinados para resistir, mas mesmo assim não devemos tentá-los. O melhor é perguntar qual o melhor momento para interagir.

Curiosidades

• A Lei 11.126 (2005) assegura que a pessoa usuária de cão-guia tem o direito de ingressar e permanecer com o animal em todos os locais públicos ou privados de uso coletivo, inclusive todos os meios públicos de transporte;

• Como o cão-guia está trabalhando, ele também se aposenta com cerca de 8 ano de serviço;

• Seu treinamento começa desde filhote com o processo de socialização com famílias voluntárias. Após esse período, um adestrador especializado ensina as funções de guiar, desviar de obstáculos, esperar o momento certo de atravessar a rua, entre outros;

• O investimento para doar um cão-guia é alto, o que o torna um recurso para deficientes visuais. O aporte médio gira em torno de R$30 a 40 mil reais em cada cão.

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