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Tratamento com Cannabis medicinal muda vida de professora com fibromialgia
Aos três anos, Natália Cerri se despedia da mãe em seu primeiro dia de escola, enquanto era acolhida por Jane Gimenes, sua professora primária. Apesar de corriqueira, a cena antevia uma história de retribuição décadas mais tarde, quando a ex-aluna, agora já doutora Natália, especialista em tratamentos de doenças crônicas, pôde acolher a ex-professora Jane, que chegou ao seu consultório com dolorosas crises de fibromialgia, uma doença cruel não só pelos duros sintomas, mas também por ainda ser muito pouco compreendida.
O pesadelo dos sintomas e da incompreensão
“Tive minha primeira crise durante a noite, enquanto dormia. É uma sensação horrível. Acordei desesperada no meu quarto, que até então era um dos lugares mais seguros da minha vida, e me senti como se tivessem invadido minha casa e estivessem me espancando”, explica Jane Gimenes.
Até conseguir encontrar o tratamento adequado, Jane enfrentou três anos de crises noite após noite, causando um profundo estado de exaustão e ansiedade. Além das dores, descritas como a sensação de garras rasgando a pele dos membros e se irradiando pelo resto do corpo, havia um outro sintoma externo muito desafiador: a descrença das pessoas à sua volta.
Por não deixar marcas aparentes, muitas pessoas não conseguem atender ou mesmo acreditar no drama sofrido pelos pacientes de fibromialgia, um obstáculo que Jane já conhecia bem por ter acompanhado sua própria mãe passar pelo mesmo processo anos antes, quando sequer os médicos levaram suas queixas a sério.
“Sua vida toda fica comprometida. Tudo dói. Tomar banho. O toque do sabonete. Receber um abraço. Passar maquiagem. Até usar uma correntinha ou um brinco já doía. A dor constante e as noites mal dormidas destroem você. Todos os problemas parecem maiores e até coisas simples, como ouvir meu cachorrinho roncando, já me deixava em desespero”, comenta Jane.
O reencontro
Frustrada não só com os terríveis sintomas, mas também com os tratamentos tradicionais à base de medicamentos como Victal e Velija, que ajudavam a dormir, mas não eliminavam totalmente a dor e causavam uma forte letargia como efeito colateral no dia seguinte, Jane postou um desabafo no Facebook contando seu relato.
Natalia Cerri, que acompanhava a ex-professora pelas redes sociais, viu a postagem e convidou Jane para uma consulta. Médica especialista em tratamentos com Cannabis medicinal há mais de 10 anos, Natália estudou o caso a fundo e propôs um teste com extratos de CBD (canabidiol) e THC (tetrahidrocanabinol), ambos com altas propriedades analgésicas e relaxantes.
Os resultados foram excepcionais, relata Jane: “Já nos primeiros dias, a dor deu lugar a uma leve dormência, que em pouco tempo desapareceu. O alívio foi imenso. No início, senti até um pouco de euforia, mas que logo se dissipou.”
Natália explica que a energia sentida por Jane é explicada pela quantidade, ainda que pequena, de THC presente da composição prescrita. No entanto, parte do efeito também vem justamente do corpo se perceber livre de dores após anos e anos de sofrimento.
Uma nova vida
Após o início do tratamento, Jane relata uma mudança radical do seu cotidiano, ao se ver capaz de retomar hábitos antigos simples, mas muito saudáveis: “Sempre fui muito ativa, mas devido às dores, não conseguia me cuidar. Aguentava no máximo fazer um pouco de bicicleta. Com a medicação, ganhei coragem para me mexer mais e voltei a fazer musculação. Além de poder me maquiar e usar as peças que quero sem sentir nenhum desconforto como antes.”
Atualmente trabalhando como professora de maquiagem, Jane conta sua história nas redes sociais e atua em ONGs de acolhida a mulheres com câncer, tendo já chegado até a fazer workshops de maquiagem para pacientes oncológicas nos Estados Unidos por meio de uma dessas organizações.
A importância do acompanhamento médico
Apesar dos excelentes resultados, a Dra. Natália alerta sobre a importância de um minucioso acompanhamento para garantir o sucesso de um tratamento com Cannabis medicinal.
No caso de Jane, foi crucial calibrar a dosagem da medicação para mitigar possíveis interações medicamentosas e alterações hormonais, como durante o período pré-menstrual, além de reduzir uma leve sensação de sonolência e um aumento de apetite que marcaram o início do processo.
“No fundo, o maior desafio para mim foi o gosto do remédio. Mas acabei resolvendo isso rápido misturando o óleo no iogurte pela manhã”, brinca Jane.
Natália explica que, para a maioria das pessoas, o medicamento chega a ser insípido, mas que não há nenhum problema na solução láctea encontrada por Jane.
Como encontrar profissionais especializados
Em 14 de janeiro de 2015, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) liberou o uso controlado do Canabidiol (CBD) para fins terapêuticos.
Apesar de ainda haver poucos médicos prescritores de Cannabis medicinal no Brasil, já existem centros com esse foco, facilitando o acesso ao tratamento. Um deles é a Medicina In, onde pacientes podem realizar consultas on-line com médicos especializados.