Cangaço segue surpreendendo

 Cangaço segue surpreendendo

O trio pernambucano Cangaço. Imagem: Doc PEsado

Muito se esperou deste EP por conta de uma ousadia: a adição da sanfona de Vinícius Farias, como convidado mais que especial

Por Wilfred Gadêlha
PEsado – Lapada para todos os gostos

Faz tempo que o Cangaço deixou pra trás o rótulo importante – mas limitador – de “a primeira banda de metal pernambucana a tocar no maior festival do mundo”. Continua sendo relevante para o trio e para a cena pesada de Pernambuco o fato de terem se apresentado no Wacken Open Air, mas isso já faz dez anos.

De lá pra cá, o Cangaço saltou a cerca, desembestou caatinga adentro e, trocando tiro com a polícia do purismo, fez de sua sonoridade sua principal arma: a cada lançamento, inevitavelmente cabeças são cortadas em nome da mescla de música extrema e ritmos nordestinos.

É inevitável para Magno Barbosa Lima (baixo e voz), Rafael Cadena (guitarra e voz) e Evandro “Mek” Natividade não fazerem o que fazem. Talvez por isso o novo EP da banda se chame “Inevitável”.

Mais que isso: é natural para o trio ir tão longe e tão perto simultaneamente. Porque é isso que o som do Cangaço é: cheio de nuances, mas, ao mesmo tempo, fácil de ouvir.

O disco novo do Cangaço – o primeiro de inéditas desde “Rastros” (2013) – tem cinco músicas recheadas de detalhes e camadas sonoras que as transformam em uma composição só.

Porque a alternância de tempos e a técnica apurada de seus integrantes, o que poderia ser elemento de estranhamento, são utilizadas de maneira inteligente e a serviço da proposta estética que só – repito, só – o Cangaço é capaz de fazer.

Muito se esperou deste EP por conta de uma ousadia: a adição da sanfona de Vinícius Farias, como convidado mais que especial.

Pra quem imaginou solos distorcidos de acordeon, pode tirar o cavalo de chuva.

O instrumento mais nordestino de todos está lá, sim, mas dando molho, costurando tudo como uma Hot Kiss, deixando as músicas com cara de chão rachado, de mandacaru fulorando na serra, sem, com isso, desrespeitar o ambiente de metal.

Sim, porque estamos falando de um disco de metal.

Até porque quem faz esse papel de instrumento melódico no Cangaço desde sempre é a guitarra de Rafael Cadena.

Se em outros trabalhos alguns se queixavam de uma certa falta de punch, em “Inevitável” fica claro o quanto o guitarrista evoluiu – e acertou nas escolhas dos timbres.

É a guitarra do Cangaço, porra. Ela lhe guia por veredas secas, com os ouvidos abertos aos chocalhos de bode com dissonâncias, temas e fraseados que só – repito, só – se ouve aqui.

Um outro aspecto que denota o amadurecimento do trio é o papel de Magno Barbosa Lima.

Seu timbre vocal está mais vívido, quase um canto de morte, após duas demos, dois EPs e um full, encontrando assim seu lugar de destaque no fogo cruzado com a voz mais grave e encorpada de Cadena.

Sem falar que o baixo tem sua melhor aparição em toda a trajetória da banda. Irretocável.

Por outro lado, a bateria intuitiva de Mek recebeu da produção de Adriano Duprat um toque diferente.

As notas desferidas pelo ex-baterista de Torment e Hanagorik estão perfeitamente ajustadas ao que as músicas pedem.

Leve-se em consideração o fato de que a percussão fina perdeu espaço, o que levou o músico a preencher o que seria um vazio com notas fantasmas e muito tambor.

Por fim, lembrando a participação altamente reconhecível de Antonio Araújo (Korzus, One Arm Away, Matanza Ritual) em “Rachado”, o Cangaço passeia liricamente por Gonçalves Dias agora como já passeou por João Cabral de Melo Neto, assim como não deixa de citar fatos e personagens históricos, como o General das Massas em “Abreu e Lima”.
Como poderia uma banda representar tão bem a nordestinidade pesada se não descrevesse e escrevesse sobre seu lugar, sua terra, seus caminhos? A resposta é uma só:
Inevitável!
PS: no ano passado eu fui visitar os caras no estúdio para uma matéria e terminei gravando uma participação em Ao Relento.

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