Covid-19 e a vacina da solidariedade

 Covid-19 e a vacina da solidariedade

A vacina que de fato a nossa sociedade doente necessita, no momento, é a da educação, da solidariedade, contra o egoísmo

Deborah Schechtman
Professora associada do Departamento de Bioquímica do IQ-USP

Imagem de Marcos Cola por Pixabay

Durante meu doutorado, trabalhei com esquistossomose e frequentei o curso de um renomado imunologista no Egito. Disse ele: “Essa doença pode ser evitada, é só ter saneamento básico e usar botas de borracha nas águas contaminadas”. Fiquei com isso na cabeça.

Tanto dinheiro gasto com pesquisas sobre vacinas para a esquistossomose, com o desenvolvimento de novos medicamentos e, quase 20 anos depois, a doença continua sendo uma ameaça.

Agora, em 2020, com a morte de centenas de milhares de pessoas por covid-19, lembramos de conceitos básicos da biologia de vírus. O vírus só se propaga se estiver dentro de uma célula hospedeira, sobrevivendo pouco tempo no ar.

Ou seja, se dificultarmos a infecção das células pelo vírus, ele não sobrevive. Como podemos fazer isso?

Nesse caso, as medidas são mais simples do que construir sistemas de saneamento básico, ou mesmo usar botas de borracha: basta evitar aglomerações, lavar as mãos com frequência e usar máscaras.

LEIA TAMBÉM

A importância de comunicar a ciência

Covid-19: hospitalização é menor entre pessoas ativas

Usou remédio X e se curou?

Natalia Pasternak: “A ciência não é dogmática”

São medidas simples, mas também muito difíceis de implementar. Assim como não acabamos com a esquistossomose por falta de investimento em saneamento básico, não acabaremos com o coronavírus por falta de educação e por egoísmo da sociedade.

Tanto para a esquistossomose quanto para a covid-19, as medidas preventivas ajudariam muito a diminuir a disseminação do parasito e do vírus, respectivamente.

Ainda não temos uma medida mais duradoura, como a vacina ou um medicamento eficaz, não político. No caso da esquistossomose, infelizmente até hoje não existem vacinas contra doenças parasitárias, embora existam alguns ensaios clínicos, graças ao investimento contínuo em pesquisas.

Sim, junto com medidas sanitárias, devemos continuar pesquisando.

Já com relação ao coronavírus, também existem várias vacinas em fases avançadas de testes, mas ainda vai demorar até que provem a eficácia delas e que possam ser distribuídas para o mundo inteiro.

A vacina que de fato a nossa sociedade doente necessita, no momento, é a da educação, da solidariedade, contra o egoísmo.

Uma que torne as pessoas conscientes de que, neste momento, devemos, sim, restringir nossos contatos e respeitar o próximo.

É preciso, acima de tudo, acreditar na ciência.

Publicado originalmente na Revista Questão de Ciência sob o título “Mais solidariedade pode ajudar a esperar a vacina”

SUGESTÃO DE LEITURA

  • Facebook
  • Twitter
  • Pinterest
  • LinkedIn

 

Ciência no cotidiano: Viva a razão. Abaixo a ignorância!

De Carlos Orsi e Natalia Pasternak

O simples fato de vivermos no século XXI já nos faz beneficiários da ciência e dos seus frutos, mesmo que a gente não se dê conta dessa verdade.

Os objetos que nos dão conforto, que nos dão prazer, que nos transportam, que nos emocionam, que nos informam (até este livro) só existem da forma como existem por conta dos conhecimentos científicos.

O cidadão que ignora fatos científicos básicos pode se tornar presa fácil de curandeiros e charlatões, gente que mente para os outros e, não raro, para si mesma.

COMPRE AQUI! 

    Posts Relacionados

    Pin It on Pinterest

    Share This