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David Bowie: 40 anos de “Heroes”
O álbum é o segundo disco da chamada Trilogia de Berlin, que começa com Low, lançando pouco antes e continua, depois, com o Lodge
Por AD Luna
“Heroes” completou 40 anos do seu lançamento, em 2017. O álbum é uma das grandes obras do mestre David Bowie, que nos deixou no dia 10 de janeiro de 2016. E para falar do disco, o Interdependente – música e conhecimento convidou o DJ e jornalista Renato L para conversar sobre a obra, em programa veiculado no dia 30 de dezembro de 2017. Abaixo, transcrição da conversa.
Qual a importância de David Bowie para a música pop mundial?
Acho difícil a gente resumir, em poucas palavras, a trajetória de Bowie. Primeiro porque ela é muito longa, durou quase 50 anos, e muito diversificada. Então, teríamos que gastar longos minutos de cada um dos personagens que ele inventou, de cada um dos estilos musicais pelos quais ele incursionou, e não foram poucos.
A gente também teria que comentar a sua rica trajetória como ator de teatro e de cinema, o seu papel também como uma espécie de caçador de talentos – salvando do esquecimento a trajetória de dois gigantes, como Lou Reed e Iggy Pop.
Foi Bowie quem produziu Transformer, o disco de maior sucesso da carreira de Lou Reed. Também produziu The Idiot, de Iggy Pop. Também a gente teria que comentar seu imenso impacto na moda, nas questões ligadas às políticas de gênero, com suas declarações de que era bissexual, no início dos anos setenta, e seus personagens andrógenos.
Enfim, é uma carreira muito rica, muito criativa e de impacto imenso
O que esse “Heroes” tem de especial em relação aos outros produzidos por ele até a época?
Heroes é o segundo disco da chamada Trilogia de Berlin, que começa com Low, lançando pouco antes e continua, depois, com o Lodge. São os três discos que Bowie gravou, durante o período em que residiu nessa cidade alemã.
Ele foi pra lá meio que fugido dos Estados Unidos porque quase que teve um colapso nervoso, depois que passou um tempo morando em Los Angeles, tava consumindo muita cocaína, se envolvendo com magia negra, com excesso de trabalho, de fama, excesso de um monte de coisa, e resolveu partir para a Alemanha em busca de um pouco de anonimato, na companhia de Iggy Pop.
Bom, não é exatamente a pessoa com quem a gente imagina ir passar um período de recolhimento. Mas foi com Iggy que Bowie emigrou para Alemanha e foi que eles tiveram, provavelmente, os períodos mais criativos de sua carreira. O Heroes, dessa trilogia, foi o único disco que foi gravado totalmente em Berlin, no Hansa Tonstudio.
Uma coisa bastante peculiar em artistas solo com o talento de Bowie é o grande cuidado com os músicos, produtores e timbres dos instrumentos escolhidos. O que você poderia destacar em Heroes no que se refere a esses aspectos?
Bowie sempre foi um cara que procurou se cercar de produtores e músicos talentosos. E também sempre teve uma preocupação muito grande no trabalho de estúdio, sempre procurou usar o estúdio como um instrumento, como se costumar dizer.
É nessa trilogia alemã (Low, Heroes e Lodger) que ele radicaliza esses experimentos em estúdio e também alguns experimentos em termos de composição de letras, e de construção da arquitetura sônica, digamos assim, de cada canção. Bowie, aqui, utiliza a fundo uma técnica chamada de cut-up, usada pelo escritor beatnik William Burroughs – que consiste, basicamente, de experimentos com colagens.
Burroughs, nos seus romances, misturava, recombinava aleatoriamente trechos de diversos materiais (jornais, romances, coisas que ele anotava esporadicamente) e tentava recombinar isso para alcançar novos significados. Bowie transpõe essas técnicas para o mundo da música, procurando combinar sons diversos, de estilos diversos, texturas diferentes numa mesma música.
Então era comum, por exemplo, ele convidar o guitarrista e pedir pra este fazer um solo sem escutar nenhum outro trecho da música, totalmente no escuro, apenas dando uma orientação, para que o cara solar como se estivesse passeando numa avenida X, lá de Nova York.
Nesse disco, Heroes, ele contou com algumas participações muito especiais. Primeiro, dois parceiros que o acompanham durante toda essa trilogia alemã, que é o Brian Eno, grande produtor, dispensa apresentações, também Tony Visconti, que também acompanhou Bowie durante vários momentos de sua carreira (inclusive produziu o último disco, Blackstar).
E também contou com a participação muito especial de Robert Fripp, que dá o molho todo especial ao disco. E a banda que o acompanhou durante toda essa fase da trilogia de Berlin…
Pra mim, é a melhor banda que acompanhou Bowie, uma das melhores bandas da história do rock, formada pelo baterista Dennis Davis, o baixista George Murray, e o grande guitarrista Carlos Alomar.
E o Heroes, assim como o Low, mais ou menos se divide também num lado mais convencional, digamos assim, o lado A, e um lado B mais instrumental – não totalmente, como o Low, mas com várias faixas instrumentais, muito inspiradas no chamado krautrock, do Kraftwerk, Can.
É um grande disco, traz uma das canções mais famosas de Bowie, Heroes, e que merece ser escutado com muita atenção, inclusive por seus experimentos em termos de letras, de composição e de produção.
Ouça o programa sobre os 40 anos de Heroes
Ouça “40 anos de “Heroes”, de David Bowie, com Renato L #31″ no Spreaker.