Gustavo Ortiz lança “José, João”, um samba urbano em homenagem à classe trabalhadora

 Gustavo Ortiz lança “José, João”, um samba urbano em homenagem à classe trabalhadora

Foto: Diogo Mar

Faixa, com participação especial de Romulo Fróes, marca nova fase do artista e ilumina histórias invisíveis do Brasil que constrói com as próprias mãos

O cantor e compositor Gustavo Ortiz apresenta o single “José, João”, lançado no Dia do Trabalhador, 1º de maio de 2025. A escolha da data — ainda que não essencial para a escuta da canção — reforça o gesto simbólico que move a composição: dar visibilidade às trajetórias de quem sustenta o país com o próprio esforço, em um ato de memória e reconhecimento.

Construída a partir de lembranças pessoais e referências literárias, a faixa reforça a colaboração com o músico Romulo Fróes, iniciada com o lançamento do single anterior, “Trago”. Romulo assina a produção artística do EP ao qual ambas as músicas pertencem — e divide os vocais com Ortiz em “José, João”, canção que começou a ser escrita em 2022, no ano seguinte à morte do pai de Ortiz, vítima da pandemia de Covid-19 — poucos dias antes de receber a vacina.

Caminhoneiro, zagueiro de futebol de várzea e amante de palavras-cruzadas, o pai de Ortiz havia começado a trabalhar aos dez anos e se aposentado pouco antes de falecer. A canção nasce desse luto e das memórias que atravessam gerações de sua família — formada por boias-frias, professores da rede pública, pedreiros e operários.

Em 2024, a música ganhou novas camadas a partir da leitura do livro O que é meu, de José Henrique Bortolucci — também filho de caminhoneiro. A obra ampliou o gesto de reverência presente na composição e aprofundou o olhar sobre as vidas que muitas vezes passam despercebidas. “‘José, João’ é a tentativa de contar a história de dois personagens que são, na verdade, a de tantos e tantos trabalhadores”, afirma Ortiz. O título faz referência a nomes comuns, escolhidos para representar uma coletividade.

Musicalmente, “José, João” é um samba urbano com nuances de samba-baião e uma forte influência do partido-alto nos refrões. O cavaco de Rodrigo Campos conduz a narrativa com frases melódicas que dialogam com a letra, enquanto tamborim, pandeiro e surdo sustentam a base rítmica com sutileza e tensão. O violão traz a cadência marcada do samba tradicional, reforçando a vibração coletiva da faixa. “Sonoramente, os instrumentos estão todos jogando em favor da letra da canção”, explica Ortiz.

Mais do que um tributo, a canção busca ser também uma ferramenta de escuta e transformação. “Contar essas histórias tem, para mim, o intento de causar empatia e indignação — especialmente em tempos em que o trabalho com carteira assinada virou motivo de deboche entre os jovens, e num momento em que a redução da jornada de trabalho voltou a ser uma pauta relevante no debate público.”

A faixa integra um EP em produção que marca uma nova fase na trajetória do artista, combinando seu autodidatismo musical com formações em Ciências Sociais e Antropologia, influências literárias e escuta atenta de diferentes gêneros brasileiros.

“José, João” é mais do que um samba — é um memorial em ritmo sincopado para os que constroem o Brasil com as próprias mãos.

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