“Revinda”: espetáculo de dança celebra a resistência cultural das periferias

 “Revinda”: espetáculo de dança celebra a resistência cultural das periferias

Rebeca Gondim. Foto: Filipe Gondim

 

A dor de uma mulher negra diante da perda do filho, morto pela polícia numa favela do Rio de Janeiro, está no centro da dramaturgia do espetáculo de dança Revinda, nova criação da artista Rebeca Gondim. A obra reúne dança, música e poesia para falar das dores, revoltas e celebrações do povo preto e periférico do Brasil.

Com estreia marcada para 26 de abril, Revinda circulará por seis bairros da periferia do Recife até o final de maio, começando pelo Ibura. O espetáculo contará com artistas convidados da própria comunidade, numa confluência de narrativas, histórias e sonhos — o que torna cada apresentação única. Em maio, Revinda passará pelo Morro da Conceição (dia 3), Água Fria (10), Alto Santa Terezinha (17), Bomba do Hemetério (24) e Beberibe (31). Todas as apresentações são gratuitas, sempre às 17h30, com acessibilidade em Libras.

O nome Revinda, que significa “regresso ao ponto de onde partiu”, carrega o espírito do espetáculo, que começou a se formar em 2015 como uma performance de dez minutos intitulada Terezinha, em homenagem a Tereza Maria da Conceição — mãe que perdeu o filho, morto pela polícia enquanto brincava em frente de casa, no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro. Em 2019, Terezinha amadureceu e deu origem ao espetáculo Revinda, contemplado pelo edital do Fundo de Incentivo à Cultura do Governo de Pernambuco – Funcultura.

A proposta inicial era apresentar o espetáculo nas ruas, alinhada à pesquisa de dança que Rebeca desenvolve desde 2015 sobre manifestações populares, especialmente o Frevo e as danças das periferias. No entanto, em 2020, às vésperas da estreia, veio a pandemia da Covid-19. Com Maria Agrelli, coautora e preparadora corporal do espetáculo, Rebeca transpos para o audiovisual a emoção de uma apresentação de rua.

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Cinco anos depois, Revinda retorna às ruas, com incentivo do Funcultura e da Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura – PNAB Recife. A nova versão do espetáculo reflete as transformações e aprendizados do período pandêmico, incluindo a necessidade de “se aquilombar”, de formar um coletivo com amigos e familiares.

“Em Terezinha, eu estava só em cena. Agora, busquei a força do coletivo. Trouxe meu irmão, Filipe Gondim, com o trabalho visual, a fotografia e a poesia que recito em cena. Convidei artistas que me inspiram, chamei meus pais para os laboratórios de criação, e contei com Léo Bulhões, amigo querido, que fez a trilha sonora da versão audiovisual, entre tantas pessoas próximas que vieram formar essa encruzilhada de histórias chamada Revinda”, conta Rebeca.

Convidados – Em cada território, Revinda agrega o trabalho de artistas da cena local, construindo um panorama potente das manifestações culturais das periferias recifenses.

No papel de Mestra de Cerimônia, Rebeca faz a costura entre as artes, interagindo com dança e poesia. No Ibura, ela divide a cena com a música de Pajé IB, artista autoral que mescla o Drill, vertente do hip hop, com o Brega pernambucano, além da dança afro, percussão e o canto da artista Lua Maria. “Respeito muito a cultura feita no Ibura — as quadrilhas juninas, os grupos de brega funk, o movimento hip hop, que lá é muito organizado. Já dancei com muitos artistas do Ibura, um território que fomenta a arte e a cultura o tempo inteiro. É uma honra pisar e dançar nesse lugar tão fértil culturalmente. Uma potência artística”, destaca Rebeca.

No Morro da Conceição, o Frevo entra em cena com o passista Bhruno Henrique e a percussão de raiz africana do Quilombo dos Prazeres, representado por Lucas dos Prazeres. De Água Fria, vem a poesia de Adelaide, uma das articuladoras do Recital Boca no Trombone, projeto de ocupação artística local com música e poesia. O teatro e a poesia de Brunna Martins (Brups Martins) representam o Alto Santa Terezinha. Na Bomba do Hemetério, a dança toma conta com Smael Dias e Marcela Santos. Por fim, Beberibe — território natal de Rebeca, onde viveu da infância à fase adulta — encerra a circulação com a DJ Renna e a intervenção de caligrafia urbana de Filipe Gondim e Vários Nomes.

SinopseRevinda denuncia o genocídio da população negra nas periferias do Brasil, ao mesmo tempo em que evidencia a importância das coletividades, das organizações comunitárias e das manifestações culturais como formas de resistência ao cotidiano de violência. Todos os artistas convidados, além de se destacarem em suas áreas, desenvolvem trabalhos reconhecidos em seus territórios, com foco no coletivismo, na resistência cultural e na luta por direitos humanos.

Ficha técnica
Criação: Rebeca Gondim e Maria Agrelli
Luz: João Guilherme de Paula
Trilha sonora: Dj Phino e Léo Bulhões
Percussão: Bárbara Regina
Comunicação Visual: Filipe Gondim e Laura Morgado
Produção: Júnior Melo e Renata Teles
Interpretação em Libras: Joselma Santos

SERVIÇO
Revinda – circulação do espetáculo
📍 Estreia: 26 de abril (sábado), às 17h30 – Ibura (Praça da UR 06)
📍 Demais apresentações: todos os sábados de maio, às 17h30
Locais: Morro da Conceição, Água Fria, Alto Santa Terezinha, Bomba do Hemetério e Beberibe
🎟 Entrada gratuita | 👂 Acessibilidade em Libras
🔗 Mais informações: @rebecagondim__

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