Pais homoafetivos usam a internet para naturalizar novas formações familiares
No dia 25 de maio, foi celebrado o Dia Nacional Da Adoção, que conscientiza sobre o papel de oferecer um lar para crianças e adolescentes, em um país em que 34 mil menores de idade vivem em abrigos, conforme dados do Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento, do CNJ (Conselho Nacional de Justiça).
De acordo com o levantamento, entre os menores abrigados em casas de acolhimento e instituições públicas, 5.040 estão totalmente prontos para a adoção. O processo é gratuito e aberto a cidadãos com mais de 18 anos que forem considerados aptos.
Para dar início ao trâmite, é necessário realizar um pré-cadastro no SNA (Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento) e comparecer a uma unidade do fórum ou Vara da Infância e Juventude. Seguindo os parâmetros do ECA (Estatuto da Criança e Adolescente), os requerentes devem cumprir o Programa de Preparação à Adoção, que consiste em um curso preparatório, entre outros pontos que podem desestimular as pessoas que sonham com a possibilidade da adoção.
Neste cenário, uma família paulistana usa as redes sociais digitais para estimular a adoção, além de naturalizar a questão da paternidade em um casal homoafetivo. Tiago Pessoa e Paulo Tardivo – influenciadores, criadores de conteúdo digital, administradores do perfil Família Pessoa Tardivo e pais de Sara e Davi -, contam que a ideia de compartilhar nas redes sociais o dia a dia da família surgiu quando a filha pediu para fazer vídeos.
“Resolvemos chamá-la para uma trend de pais e filhos, e o vídeo viralizou. Percebemos nos comentários a importância e representatividade da família e, dessa forma, decidimos continuar”, explica Pessoa.
História compartilhada nas redes
Casados há onze anos, Tiago Pessoa e Paulo Tardivo se conheceram em março de 2011, começaram a namorar quinze dias depois e em seis meses já estavam casados. A adoção sempre foi a única opção validada por ambos para que os filhos chegassem a suas vidas. Com sete anos de união, sentiram que era a hora de iniciar o processo, o que ocorreu por meio de um cadastro nacional – que possibilita a adoção de crianças e adolescentes de qualquer cidade do país.
Quando o telefone tocou, surgiu o convite para conhecer o Davi, então com três meses de idade, em Itapipoca, no interior do Ceará. Quando chegou à cidade, o casal de São Paulo (SP) descobriu que o menor tinha uma irmã, mas que a adoção poderia ser feita de forma individual, sem a obrigação de adotar as duas crianças.
“Essa informação pegou a gente de surpresa: a gente tinha se preparado, emocionalmente e financeiramente, para ter apenas um filho. Foi após uma viagem de ida e volta e um encontro emocionante com ela [Sara], que decidimos adotar os dois irmãos”, detalha.
Conscientização, inspiração e quebra de tabus
Segundo Tardivo, o retorno dos seguidores nas redes sociais tem sido positivo: “As pessoas são muito acolhedoras, se identificam com nossos dilemas e rotinas da família. Além disso, homens e mulheres gays contam que se sentem representados por meio de nossa história e voltam a sonhar em ter uma família”.
De acordo com ele, o perfil visa naturalizar a paternidade entre um casal homoafetivo. “Somos uma família como qualquer outra. Enfrentamos desafios com a educação e dificuldades em sustentar uma casa, por exemplo. Por isso, não devemos ser tratados como um caso à parte, e sim como parte de uma sociedade diversificada. Isso reflete na vida e futuro das nossas crianças”, explica.
Além disso, prossegue, entre os principais objetivos do perfil, há a preocupação em dar destaque à importância da adoção tardia. “A adoção tardia é cercada de mitos, do tipo: ‘a criança já vem com caráter formado’ e ‘você não vai presenciar as primeiras vezes das crianças’, entre outros. Por meio do nosso dia a dia, mostramos que nossa família vai na contramão disso tudo e incentivamos os seguidores que sonham com a adoção a tirarem as crianças mais velhas que estão nos abrigos”, conclui.
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