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“Médico não é cientista”: cardiologista e escritor José Alencar explica
“Médico não é cientista, absolutamente não”. A afirmação é do cardiologista José Alencar. O autor do livro “Manual de Medicina Baseada em Evidências” participou do programa InterD – música e conhecimento, apresentado pelo músico e jornalista AD Luna e veiculado na rádio Universitária FM do Recife.
Para Alencar, a pandemia da covid-19 demonstrou que, em geral, médicos também não sabem interpretar evidências científicas. “Então estamos bem longe de ser cientistas”, diz.
“O médico é um cara que estudou bastante durante sua época de graduação ou não, né? Pois ultimamente temos visto uma queda da qualidade geral desse profissional”, critica.
No entanto, ele pondera que “há formações e formações”. Pois existem médicos que vão desenvolver seu aprendizado com criticidade, que vão tentar interpretar o que estão aprendendo e tentar sempre melhorar.
Já o cientista em si é “aquele cara que produz as evidências científicas”. “Ele tem que entender de metodologia de pesquisa. Não a metodologia de leitura da evidência, mas metodologia de fato, de pesquisa”, expõe.
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“O cientista tem que entender como produzir, no estudo dele ou em laboratório, as melhores condições para simular o mundo real, para conseguir que o resultado dele tenha uma validação externa”.
O médico diz que “nada disso, mas absolutamente nada disso, é ensinado durante a faculdade de medicina”. Segundo ele, as faculdades nem mesmo ensinam os estudantes a interpretar um artigo científico.
Atuação de médicos durante a pandemia
De acordo com Alencar, durante a pandemia diversos passos referentes ao método científico foram e continuam a ser ignorados por muitos médicos por eles não entenderem como funciona o trabalho dos cientistas.
Por outro lado, ele aponta que há médicos que abraçam a carreira de pesquisador. “Estão produzindo pesquisa, ciência. Então, são de fato cientistas”.
“E há alguns médicos, como eu, que somos leitores das evidências. Nós conseguimos interpretar essas evidências, os vieses que elas podem ter. Conseguimos ligar o que o pesquisador está querendo me mostrar ao elo final: o paciente”, observa.
Em geral, médico não é cientista e nem bom interpretador de evidências
“Essa é uma diferenciação que eu gostaria de fazer. Resumindo, médico não é pesquisador e ele também não é um bom interpretador de evidências. Ele pode ser levado a ser um pesquisador e pode estudar – por exemplo, pelo meu livro – para ser um bom interpretador de evidências científicas”, defende José Alencar.