Por Alexey Dodsworth*
“Monsters” (Netflix), série baseada na história real dos irmãos Menendez que mataram os pais a tiros de espingarda, é excelente sob diversos aspectos. Ressalto a atuação, maravilhosa, de todos os envolvidos. Javier Bardem é sempre ótimo, nem precisa se esforçar muito. Os atores que fazem os irmãos também estão excepcionais. Os diálogos são ótimos e o roteiro é muito bem costurado.
Pra quem não conhece a história real, os irmãos Erik e Lyle mataram o próprio pai, José Menendez, um cubano naturalizado cidadão dos EUA e que foi um dos empresários mais responsáveis pelo sucesso do Menudo. Nas alegações, os irmãos dizem ter sofrido abuso sexual do pai ao longo de toda a infância. A acusação contesta e diz que a motivação deles era apenas a herança. Há evidências de verdade para ambas as coisas e eu aposto que as duas coisas são reais.
Muito difícil não acreditar que Menendez não fosse um abusador de meninos. É só lembrar que Roy, um dos integrantes do Menudo, acusou José Menendez de tê-lo violado quando ele, Roy, tinha apenas 13 anos. Tudo indica que José Menendez fosse um homem asqueroso. Queria dizer que me espanto, mas seria mentira. Qualquer pesquisa sobre violência sexual cometida contra crianças demonstra que a maioria dos casos envolve pessoa próxima, em geral da família ou amigo próximo aos familiares.
Vejam a importância da educação sexual em escolas: os irmãos Erik e Lyle passaram um bom tempo NATURALIZANDO o que o pai fazia com eles desde que cada um tinha SEIS anos de idade. Eles só foram entender que aquilo era errado muito tempo depois.
Não me espanta que ambos sejam meio trelelé lá da cabeça. São meio burros, inclusive. Cometem asneiras que os tornam indefensáveis. Quem fica normal após passar por isso?
E o mundo é um ovo: um dos envolvidos na acusação é o pai de Dominique Dunne, atriz que fez a irmã mais velha no filme Poltergeist e que terminou morta pelo namorado. O pai dela passa a dedicar a vida a garantir que assassinos sejam presos. Erik e Lyle foram condenados à prisão perpétua.
Em tempo: há diversas insinuações de que os irmãos cometiam incesto entre si. Como bem disse um psicólogo envolvido no caso: não era uma relação amorosa, era um efeito colateral do abuso que ambos sofriam dentro da família. Um dos momentos mais tristes é quando Erik diz não saber sobre a própria sexualidade e arremata: “como saber do que eu gosto, depois de ter passado por isso?”
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